A segurança do paciente é considerada emergência global nos dias atuais. A conjuntura é compreensível quando avaliamos os dados da Organização Mundial da Saúde, que apontam para um em cada 300 pacientes como vítima de eventos adversos evitáveis no cuidado assistencial, em cenários de atenção primária e ambulatorial, representando ainda a 14ª causa de morbimortalidade no mundo. O custo associado aos erros de medicação, por exemplo, é estimado pela OMS em US$ 42 bilhões ao ano. E essa sucessão de falhas pode ter como ponto de partida a identificação do paciente.
Basta um pequeno erro na identificação do paciente para desencadear uma sequência de falhas que pode ocasionar graves consequências ao paciente, como sequelas permanentes ou até o óbito. Por isso, é fundamental termos a exata noção da relação entre a identificação do paciente com a administração de medicamentos, a realização de exames, as transfusões de sangue e os procedimentos cirúrgicos. O que permeia todos esses elementos na rotina hospitalar são os protocolos de segurança, garantindo a correta identificação do paciente nas etapas da assistência, desde a internação até a alta.
A identificação do paciente é a meta 1 dos protocolos de segurança e a sua implementação pelos processos tecnológicos, como o uso de código de barras e biometria, além da capacitação das equipes, servem para prevenir erros no cuidado assistencial. Principal elemento na admissão do paciente, a pulseira de identificação deve ter o nome completo e a data de nascimento da pessoa, devendo permanecer no seu braço por tempo integral até a alta hospitalar. O segundo passo desse ser a conscientização do paciente e seus responsáveis da importância vital da pulseira, para que a rede familiar seja agente ativo do cuidado.
Uma medida que sempre deve ser adotada pelas equipes setoriais é a confirmação da identificação do paciente em todas as suas ações, seja nas prescrições, pedidos de exames, dietas, medicamentos e, principalmente, na realização de intervenções. O uso da tecnologia não deve dispensar esse cuidado, que pode prevenir qualquer falha no sistema automatizado.
Com olhos na efetivação do protocolo de identificação do paciente nas unidades de saúde, o ECRI Institute PSO, uma organização internacional especializada em qualidade e segurança em saúde, elaborou uma lista de ações que não devem ser realizadas e outras que devem ser seguidas, visando a prevenção dos erros no processo de assistência. Vejamos.
Ações recomendadas:
- Aplique todas as técnicas de identificação previstas no protocolo;
- Adote medidas adicionais para evitar a troca de pacientes, quando houver nomes parecidos na mesma unidade;
- Registre os identificadores de forma clara, nas pulseiras de identificação do paciente, nas prescrições, nos resultados de exames e em todas as demais solicitações e documentos do prontuário médico;
- Minimize possíveis distrações durante a checagem dos identificadores. Ou seja, interrompa outras tarefas e faça uma coisa de cada vez;
- Ofereça orientação em linguagem clara e acessível. Caso a pessoa atendida possua limitação de audição ou visão, providencie meios de adequados para comunicar-se com ela;
- Notifique o Núcleo de Segurança do Paciente, caso observe desvios do protocolo de identificação. Mesmo que isso não leve ao erro (near miss), ainda assim, merece ser trabalhado institucionalmente para que não se transforme em erro futuramente;
- Encoraje os pacientes a participarem ativamente do processo de identificação. Oriente-os, inclusive, a questionar os profissionais, caso estes não confirmem os identificadores de sua pulseira antes de algum procedimento.
O que deve ser evitado:
- Não use a localização ou o diagnóstico como identificador do paciente. Além de ser comum a mudança de leitos/unidades, chamar as pessoas pelo nome é uma forma de humanizar o cuidado;
- Nunca assuma que o paciente irá corrigi-lo, se você pronunciar seu nome errado. Ele pode estar confuso ou assustado, ou nem sequer perceber esse equívoco;
- Nunca coloque pessoas com nomes parecidos (na grafia ou no som) no mesmo quarto. Isso é um convite para o erro;
- Não permita e não pratique desvios do protocolo de identificação institucional. Não presuma que não vai errar, respeite sempre as normas.